terça-feira, 17 de maio de 2005

| to be continued |


O ar de espontaneidade dela não tira a importância do ato: eles estão dando um passo real. Ele finge que não concorda e não propôs uma comemoração e pra ela qualquer coisa é motivo para comemorar, “até porque eles não vão ter nada muito ortodoxo mesmo!”
Nem um pouco ortodoxo: vão ter um ministro pederasta tocador de bateria, padrinhos ensandecidos por Heineken falando dos últimos lançamentos de jogos online, convidados desenhando caricaturas em guardanapos de papel, outros discutindo a qualidade do acabamento da varanda (com as vistas já comprometidas pelo teor alcoólico no sangue), comidinhas vegê ao lado de calabresas apimentadas, primas que se beijam na boca pra distribuir batón, gente fingindo que está fantasiado, outros impossíveis de serem reconhecidos e bipolares em dia de ótimo humor. Gente falando de filosofia, as feiticeiras do sabah comentando como ela consegue ter várias profissões, gente falando mal de novela, discurso sobre as últimas aprontadas dos caras engraçados do estúdio e falando como eles dois são legais juntos, mesmo ainda lembrando daquela antiga namorada dele que tinha a voz bonita e do namorado com quem ela gastou a adolescência, mas que não merecia nem um olá.
Ela talvez vá continuar perguntando coisas e ele talvez continue não querendo responder. Ele provavelmente vai continuar reservado e ela eventualmente estará acostumada com isso. Ela cada vez mais vai querer achar as respostas pra tudo e ele vai ter sempre a simplicidade ao seu lado. Às vezes eles terão respostas. Ela quer ter um apelido novo a cada semana. Ele quer não se esquecer da mega-sena acumulada. Eles querem continuar gargalhando, continuar em silêncio, continuar nadando, lembrando e esquecendo, continuar tocando e cantando. Guardando o outro a cada respiro, cuidando a cada desvio. Dialogando com o caos e fazendo dele um parceiro. Mudando pra continuar, continuando pra mudar. Implicando porque são irmãos, conversando porque são amigos, acusando porque são família, apoiando porque companheiros, acariciando porque são amados, atiçando porque desejados... e acrescentando frases a essa história todos os dias...