terça-feira, 10 de maio de 2005

Sim, é lugar comum falar das diversidades encontradas aqui nas nossas áreas tupiniquins, mas isso me diverte muito. Não, não me diverte divagar sobre as diversidades, me diverte vê-las! Hoje eu e minha mãe precisávamos comprar um trilho para a cortina do meu quarto, que ainda não existe, mas já precisa que se gaste com ela. Então nos dirigimos a uma das grandes lojas de material de construção da Avenida Leitão da Silva (famosa por ter tudo que se precisa neste ramo), mas lá eles não cortavam do tamanho que precisávamos. “Vai do outro lado da rua, lá vocês conseguem”, disse o rapaz uniformizado, de banho tomado na loja com ar condicionado. E pra lá fomos. Uma loja mais simples bem em frente à outra, com rapazes também uniformizados, mas sem ar-condicionado, só que nessa não tinha o trilho que precisávamos. “Aqui do lado você vai encontrar” disse o rapaz com o cabelo raspado e uma faixa raspada mais funda como se tivesse penteado o cabelo de lado. Então dobramos a esquina e alguma coisa me dizia que aquilo ia ser divertido. Encontramos uma pequena loja com duas pequenas portas. Mas ela não era divertida porque ela tinha duas pequenas portas (obviamente. Ou não?), mas pela quantidade de coisa que se comercializava ali. Logo que entramos um moço passa (quase pula) na nossa frente para ser atendido pelo rapaz meio sujo e com o meio dos dentes da frente estragados, esse moço tinha um odor ruim (como é que se escreve cecê?) e logo depois que ele tirou todas as dúvidas sobre o xadrez e a massa e saiu sem comprar nem anotar nada, o rapaz perguntou do que precisávamos. Enquanto ele ia buscar nosso simples, mas difícil, trilho duplo para cortina, lá nos fundos, eu abri bem os olhos e deixei aquele lugar entrar na minha memória, porque era incrivelmente incomum e ao mesmo tempo incrivelmente possível! Na bancada de borracha comida nas laterais ficavam calculadoras, papéis, trenas e uma balança de frutas (!). Isso, na loja de materiais de construção eram vendidas laranjas e melancias, que estavam no chão logo ao lado do vaso sanitário avulso; as dúzias de ovos ficavam encostadas no vidro que protegia os pregos e sobre um tubo enorme de PVC para esgoto; as bananas perto dos puxadores; as maçãs embaixo dos banquinhos que serviam de pés para um armário fechado que era base para os pilões, travessas, colheres e outras coisas de madeira; e penduradas na parede em cima das propagandas de tintas e chuveiros, várias cores e variedades de pipas. Ainda consegui descobrir banquinhos de madeira por um precinho legal pra minha futura casa! Ajudei o menino dos dentes ruins a serrar o trilho (porque o cliente pode ter ou não razão e pode ajudar no serviço, se ele for legal, que é o meu caso). Pagamos por dois metros tendo comprado um e setenta e cinco, já que aqueles outros vinte e cinco centímetros não iam servir de nada pra ele, apesar de isso não ter sido avisado antes (sabe como é: o cliente é esperto!). Esperamos o troco enquanto contávamos quantos modelos de gaiolas se penduravam sobre nossas cabeças e comíamos uma banana (cortesia da casa). Mas minha mãe não levou ovos, porque o preço não estava nada bom!