sexta-feira, 6 de junho de 2008

pelo caos



coagido pela paz que eu não quero seguir [Marcelo Yuka]


Eu não quero paz!

Não essa paz que se vende em feiras, que se canta em músicas de movimentos ‘paz pela paz’, cantadas por cidadãos ditadores dentro de casa, injustos no trabalho ou cegos (daquele que não quer ver) nas ruas.

Que tipo de paz é feita a partir de imposições? Que tipo de paz é feita a partir de discursos vazios? Que tipo de paz é tomada à força? Que tipo de paz é justificada pela tradição e pela cultura ( “é assim e não se discute”)?

Essa é a paz de quem se vê melhor que o outro; a paz de quem acha que o ser humano é mais evoluído que os animais, ou que as plantas; de quem acredita que falar em nome de um deus sem sequer questionar as próprias atitudes vai o fazer mais “evoluído”; de quem acha que porque teve a sorte (ou privilégio) de estudar mais do que servente é mais capaz que ele (ou merece mais respeito que ele); de quem acredita que suas atitudes são as corretas e que o mundo seria muito melhor se tudo fosse feito do seu jeito; de quem não chora a morte do cachorro do amigo; de quem não vê graça nos erros; de quem não sabe ouvir o outro e mesmo assim quer um ombro pra chorar...

Essa paz dos fracos que se acham fortes não é pra mim!

A minha paz é a que resulta do caos, da turbulência, do vento forte na cara enchendo o olho de areia; a paz de querer sempre dizer o que pensa (por mais que isso às vezes doa ou pareça ridículo); de quem não tem medo do ridículo; de quem sabe que vive errando e que talvez nem esteja tentando acertar (só viver); de quem tem medo e admite isso; de quem gostaria de carregar todas as criaturas sem saúde e sem teto pra dentro de casa e cuidar; de quem não precisa da aprovação nem do consentimento de um ser superior pra acreditar que está cada dia aprendendo mais coisas (não necessariamente se tornando “melhor” – o que é “melhor” mesmo?); de quem chora não só a sua própria dor, mas também a dor do outro; de quem põe a cara pra bater; de quem discorda de si mesmo, de quem muda de opinião...

Acho que a minha paz, aqueles “fortes” chamam de insanidade, balbúrdia, sacrilégio, pecado, dor, subversão, ilusão, erro...

Eu? Eu chamo de felicidade. Ou de paz.

2 comentários:

Anônimo disse...

sincericida até a última gota.
te gosto ainda mais do que ontem.
privilégio de te ter, menina porreta.
disse tudo e mais um monte.

Mauricio disse...

Paz é uma abstração utópica que não faz sentido nenhum para mim.
É como aquela história de preferir ir para o inferno, ao invés daquela monotonia burocrática do céu.
A estética da vida é muito mais interessante se inclui os dias árduos contrastando com o aconchego dos cobertores nos dias frios de inverno.