sexta-feira, 15 de julho de 2005

|herança|

Ontem à noite meu álbum de formatura estava sobre a mesa da sala, ele me chamou, mas eu não tinha tempo hábil pra abri-lo. É eu ando sem tempo, eu tenho dois ofícios e não deixo nenhum deles... Mas sabe, hoje quando acordei pra trabalhar (novamente) ele ainda estava lá... e ele olhou pra mim como que dizendo: “vem, eu to com saudade do teu toque e tenho umas coisinhas pra te dizer.” E eu fui hipnotizada como mariposa para a luz.
Sentei no sofá como se não tivesse horário e voltei no tempo, tantos sentimentos misturados, os que tenho agora com os que tinha na época, que nem é tão remota assim... Eu olhei para mim, para minha família e claro, reparei na minha pele, meu cabelo, minhas unhas... Mas alguma coisa naquelas imagens me dizia mais... E então olhei para os meus olhos, para o meu sorriso e eu estava feliz, apesar de assustada. Eu estava diferente, apesar de igual. Estava corajosa, apesar de relutante. Estava verdadeira, apesar de escondida.
E hoje, olhando para aquele passado recente, eu quis arrancar algumas páginas [como posso fazer isso? Levo em algum lugar que faça álbuns blábláblá]... Meu sorriso e principalmente meus olhos são diferentes dependendo da companhia em cada foto (e deve ser por isso que sou louca por fotos, elas me dizem muita coisa). A minha participação na formatura foi intensa, cantei, fiz discurso, ajudei a elaborar quase tudo... Sim, eu sou intensa; uma intensajunkie sempre em busca do zen... Mas estou desviando do assunto, como faço na terapia quando se trata de algo difícil de lembrar ou falar...
Eu dizia que quis arrancar algumas páginas do meu álbum de formatura... Não, eu não as tirei por mim mesma, tenho elevado apreço (ou seria apego?) ao álbum para fazer isso... mas eu cheguei a procurar parafusos e buracos para saber se não era tão trabalhoso quanto imaginava... E continuei me olhando, olhando os outros, catando cada pedaço de lembrança esfarrapada que aparecia na minha cabecinha de borboleta. As páginas foram passando e eu descobri naqueles poucos minutos que não é tão fácil assim arrancar lembranças... Elas estão enlaçadas com outras das quais não quero me desfazer.
Quero me desfazer da existência daquele cara amargo, mas não da irmã dele que acabou sendo minha irmã e que eu amo tanto e que está junto conosco na foto... Quero esquecer daquela felicidade ao lado de um falso amor, mas não do orgulho de ter meus melhores e mais fiéis amigos ao lado na mesma imagem... Quero apagar da lembrança o olhar apaixonado do menino, mas não os olhos com orgulho de mim da mama... Tantas escolhas, idas e vindas, decisões, felicidade e tristeza passaram por mim em menos de dez minutos... e então eu me lembrei docemente (e com um sorrisinho de quem ama quase tudo que ele diz) das palavras no namorado, dizendo que não há como tirar as pessoas da nossa vida [infelizmente?] e que eu não pedisse que ele fizesse isso... Hoje [não sei por quanto tempo] eu entendi isso...