terça-feira, 15 de março de 2005

Once Upon a Time...

Essa é a história de uma menina que aprendeu apanhando.|

Seus pais nunca encostaram um dedo sequer nela, mas tomaram atitudes que conseguiram ser de muito mais violência: mentiram, fingiram, esconderam, enganaram.
Então desde cedo esse pequeno ser aprendeu que ninguém é confiável. Mesmo a pessoa mais querida é capaz de te prometer algo e nunca, nunca cumprir.
Então essa menina passou a não mais acreditar quando sua mãe dizia que ela era inteligente, ou quando seu pai jurava que ela estava linda, nem quando o mago dizia que era possível ver através do tempo, ou mesmo quando um coleguinha da escola contava uma história mirabolante – e de dar inveja – que havia acontecido no verão.
E assim a menina cresceu duvidando até de si própria.
Duvidando do espelho que mostrava que ela não estava tão gorda quanto pensava estar – "pode ser daqueles espelhos de efeito."
E agora? Quem poderá defende-la?
Ela até teria chance de se tornar alguém mais confiante se não tivesse encontrado pela frente um grande "primeiro amor" que além de frio, era céptico. Então ele também não acreditava no que lhe diziam e não acreditou quando ela lhe disse que estava morrendo. Não estava, mas acreditava que estava, e era uma das poucas certezas que a pequena tinha todos os dias, provavelmente a única.
Ele apelidou de "chilique" algo que não era tão simples assim.
E o grande "amor" morreu junto com a adolescência dela.|

Mais um Round: medo.
Ela andava sozinha, pq mesmo cercada de amigos eles não sabiam o que ia no mais íntimo de sua alma: ela estava morrendo. Ela morria todo dia várias vezes e isso só piorava. Morria de alergia, morria de tristeza, morria engasgada, morria por morrer mesmo. Estava sempre morrendo. E morrer dá uma canseira! Então era apenas um personagem fantasma que jamais foi realmente feliz ao lado daqueles pretensos amigos.
Mais uma tentativa. E a menina encontra um rebento. Sem saber bem o que fazer, ela resolve ficar com ele e ele é capaz por um tempo de faze-la acreditar que poderia voltar a creditar. Pobre menina, mais uma vez enganada pela esperança de não se enganar... A vida então ensina, batendo. E ela mais uma vez tomou umas da respeitada Sra. Vida.
O rebento abandona o barco mesmo antes dele afundar e mais tarde ela descobre que de perdedores sua vida já esteve lotada e até fica feliz por não ser responsável por mais aquela derrota.

Novo Round intermediário: perdas.
Se ela já tinha poucos em quem confiar, menos foram ficando. Barcos iam partindo no cais até que nada mais lhe restava além de chorar balançando um pequeno lenço branco.|

Foi aí que surgiu um cavaleiro.
Um cavaleiro com olhos de caramelo.
Mas a pequena estava com muitas lágrimas nos olhos e muitos calos de tantas mortes nas mãos para novamente acreditar que seria possível um final feliz.
(...)
Ela anda tentando afinal sumir com as marcas, anda querendo guardar os lenços e acreditar nos espelhos. Mas pode levar algum tempo.
E ela teme que o cavaleiro não possa esperar.