v. tr., encobrir, ocultar com astúcia; fingir; disfarçar.
Assuma: você gostaria que eles sofressem!
Quem não convive ou já conviveu com algum dissimulado que atire a primeira pedra!
É muito pertinente que se tenha mais mágoa dos dissimulados do que do mentiroso, do ladrão, do corrupto, do insolente, porque, afinal de contas, os dissimulados são tudo isso numa criatura só e, para piorar, em 98% dos casos, são encantadores!
OK, isso não está fazendo o menor sentido pra você? Eu explico.
Ele ou ela teve a capacidade de te convencer que era seu amigo, ou qualquer outra relação similar que te fez acreditar que ele era digno da sua confiança ou do seu amor, da sua admiração e (lá no fundo) provavelmente da sua inveja.
Algum dia você partilhou segredos, felicidades e até fraquezas com eles e eu posso garantir que eles te roubaram tudo isso. Portanto, os predicados escritos lá no começo do texto dizem respeito ao dissimulado sim, principalmente ladrão!
[atenção, os depoimentos a seguir são verídicos e não usam nomes fictícios]
Eu tive essa professora de ballet, Ingrid. Quando eu crescesse, eu queria ser igual a ela (que bom que eu não cresci). Um dia ela resolveu que tinha o direito de me humilhar (sim, humilhar, verifique no dicionário exatamente o que isso quer dizer) em uma sala com aproximadamente 50 alunos (entre profissionais, semi-profissionais, adultos e adolescentes).
Ela roubou meu sonho de ser bailarina e minha capacidade de acreditar em ídolos, e conseqüentemente nas pessoas...
Tive esse namorado, Hector. Primeiro grande amor, enorme admiração, era quase como se eu quisesse ser ele! Durante anos de namoro eu acreditei cegamente no que ele dizia e dia após dia, fui me convencendo de que era a pessoa egoísta, ciumenta e burra que ele dizia (sem palavras explícitas). Um dia ele quis que eu acreditasse que a depressão profunda em que eu estava (e que só piorava) era chilique e eu não consegui.
Ele roubou minha auto-estima, minha saúde (mental e física) e também minha capacidade de acreditar realmente em qualquer pessoa...
Tive uma “amiga”, Priscilla, daquelas que se quer copiar, bonita, alta, descolada, bem vestida, conhecia todos os “cool” da cidade e ainda por cima era dona do seu próprio negócio (de roupas para descolados, é claro!). Durante muito tempo eu só comprava na tal loja, passava as tardes fofocando por lá e ainda levava todas as amigas (as de verdade) para gastarem (elas gastavam bem) para comprarem com ela.
Ela me roubou o namorado. Não o do parágrafo acima, mas um que me levava café na cama, me fazia surpresas, me escutava e estava quase me fazendo acreditar nas pessoas novamente.
Este me roubou a crença de que existe alguém exatamente do jeito que se sonhou e que basta encontrá-lo...
Tive essa chefe, Renata. Ela mais parecia amiga de trabalho; trocávamos confidências, idéias sobre a profissão, dicas amorosas. Eu a admirava justamente por sua capacidade de liderança discreta, sem pisar nos subordinados. Uma dia tudo que eu havia partilhado com ela se tornou “falta de profissionalismo” e ela tentou me fazer acreditar que eu não ia alcançar nada profissionalmente.
Ela me roubou a crença em amigos de trabalho...
Tive muitos outros dissimulados passantes da vida e cada um deles me rouba algo proporcional ao tamanho de sua importância na minha vida.
Eu? Eu sigo aprendendo a perceber uma atitude aqui, um olhar fujão ali, um pseudo-sorriso acolá e vou muito bem, obrigada.
Sigo acreditando que a Lei do Karma funcione sempre e que eu não preciso gastar mais energias do que já perdi com esses senhores. Sigo realizando meus desejos mais cruéis através dos sonhos.
Sigo tentando ser encantadora e digna de sua admiração, do seu amor, da sua confiança e (lá no fundo) provavelmente da sua inveja.